Crônicas e Poesias
sábado, 19 de janeiro de 2013
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Prevenção versus postergação
Por que e para que
falar em prevenção?
Por
que esse é um assunto que instiga reflexão. Usualmente pensamos em prevenção
relacionando-a a doenças, hábitos saudáveis, alimentação adequada, exercícios
físicos, academia e lazer. Visitas a determinados profissionais de saúde. Mas este
é um tema abrangente e amplo, pois se trata da forma como agimos em relação a
tudo em nossas vidas. Basta pensar que poupança é uma forma de prevenção.
Vamos
pensar um pouco nas últimas promessas de ano novo que fizemos de 2011 para
2012. Elas eram importantes? Estão sendo realizadas? Caso positivo isso é bom.
Caso negativo pode-se pensar que isso nem era tão importante assim, não é? Por
isso se deixou de lado.
Acontece
que neste caso não há como falar do preto sem falar do branco. Sobre as
consequências de fazer e de não fazer, de prevenir e de postergar, de ter
iniciativa ou de ser rígido deixando tudo como está. Trata-se da possibilidade
e da vontade, da realidade e do prazer. Sim, postergar pode ser prazeroso, mas
mais prazeroso ainda é receber os frutos do que foi proposto e executado por
livre iniciativa nossa.
Precaver,
tratar-se com cuidado suficiente para viver com plenitude. Nesse ponto gostaria
então de introduzir a ideia de psicoterapia como prevenção, estímulo de autocuidado,
amor próprio, autorrespeito. Fico a me perguntar então: será que muitos casos
que chegam aos consultórios psicológicos teriam um prognóstico melhor caso
tivessem chegado antes? Antes da separação, da discussão, do estresse, da
demissão, antes do esquecimento de tudo aquilo que poderia ser feito. Será que
tudo poderia ter saído melhor se as tais promessas de ano novo fossem
realizadas? Será?
Que
promessas são essas? Vou visitar mais meus amigos? Vou iniciar a fazer
atividade física? Vou entrar na academia? Vou emagrecer? Vou trabalhar com algo
que eu realmente goste? Vou acompanhar mais de perto meus filhos, ir nos seus
torneios esportivos, verificar os seus temas, conhecer seus amiguinhos? Vou
visitar meus parentes no interior? Vou iniciar uma atividade que eu realmente
goste? Vou escrever um livro? Vou parar
de fumar? Báh, esse ano então eu vou ...
Relações,
relações. Preservar mantém, postergar termina. Mas deixemos para as novas promessas
de ano novo, vamos refazer nossas listas. Quem sabe no ano que se aproxima elas
sejam cumpridas.
Que
coisa interessante, como a divisão loucura e sanidade transita entre nós. Pessoa
desequilibrada lá no consultório do psicólogo e pessoa sã aqui. Pessoa sadia
não precisa de ajuda, não precisa prevenir, não precisa promover sua saúde? Precisa?
Posso
pensar: não vou visitar fulano, ele nunca me visita. Iniciativa ou desculpa?
Mas eu gosto do fulano? Gostaria de manter relacionamento com ele? Quantos
padrinhos e madrinhas perdem contato de seus afilhados? Quando alguém é convidado(a) a
ser dindo(a) quer dizer que essa pessoa é bastante importante para essa
família. Com o tempo essa pessoa não é mais importante? Ela vai deixando de ser
importante ou ela se faz menos importante do que realmente é? Mas como disse
antes, não tem problema, no final de ano refaremos nossas listas acrescentando
tudo aquilo que estamos deixando de lado agora.
Quem sabe o grande
desafio seja pensar a palavra prioridade ao lado da palavra prevenção, não é?
segunda-feira, 23 de julho de 2012
O abraço
Gosto mais de abraço do que beijo. Abraço é mais fácil de ser sincero. Só se
abraça quem é querido. Eu pelo menos só abraço quem eu gosto. Como é agradável
abraçar alguém especial. Os braços se entrelaçam, as bochechas se encostam e
os lábios estampam um largo sorriso. Quando
encontro alguém especial que não vejo há muito tempo, dou um abraço demorado
para dizer que a demora do contato do abraço é parecido com o tamanho da falta
que aquela pessoa fez durante todo o tempo que não a vi.
Beijos são estalos de
cumprimento e como a própria palavra diz, faz parte do cumprimento do
protocolo universal de reconhecimento quando uma das partes é uma mulher. O
abraço tem um ingrediente cada vez menos utilizado atualmente: o
contato físico.
Pela internet pode-se
planejar encontros, chats, bate-papos, mas não há como abraçar quem se gosta. Nem sequer beijar. Não dá para sentir o gosto de um chopp do colega e nem tapar os olhos da pessoa que espera
perguntando: adivinha quem é?
Acredito que o contato
virtual pode facilitar, mas não qualificar uma relação. Hoje em dia há quem faça
terapia on-line e mais interessante ainda: há quem se submenta a esse processo. Seria paradoxal tratar alguém com dependência de internet através de terapia on-line,
não? Seria terapêutico, apropriado?
Internet, telefone,
tecnologia em geral facilita, mas não substitui o contato. Por isso acredito
que o contato pessoal será cada vez mais valorizado. Imagine que utopia: conversar com alguém que se
dedica exclusivamente para aquele momento, sem olhar o computador, o iphone,
tampouco a televisão. Não há meio de
comunicação mais intenso que um olhar e não há contato mais próximo que um
abraço.
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Terapia e humildade
Há alguns dias eu conversava com uma
tia muito querida que revelou estar preocupada com a neta dela. Disse que ela
tirava ótimas notas, sendo uma menina graciosa, atenciosa, mas estava na fase
do preto, desde esmalte de unhas até as roupas. Mas até aí tudo bem, o que a
deixou preocupada foi o fato da neta falar que queria fazer terapia com um
psicólogo. Ela ficou preocupada e disse que não era o caso dela fazer terapia,
pois elas poderiam conversar sobre o que ela quisesse. Não era tão grave assim.
Infelizmente existe um senso comum de
que psicólogo trata loucos, pessoas mentalmente incapacitadas, não lúcidas,
incapazes de se manterem equilibradas ou passando por grande dificuldade. Outro
senso comum é o seguinte: eu não sou o errado, não sou eu que tenho que fazer
terapia. Gostaria de dizer antes de
qualquer convenção ou senso comum, que psicólogo não trata loucos, psicólogo
trata pessoas, como eu, como você. Qualquer pessoa. Qualquer pessoa pode passar
por dificuldades em algum momento da vida. E não precisa passar por dificuldades para
visitar um psicólogo. Como no caso que referi no início desse texto, é
interessante uma jovem querer ir a um psicólogo. Aqui existe uma possibilidade interessantíssima
a nossa frente, ou seja, a possibilidade de trabalharmos com prevenção. Nós
brasileiros temos o costume muitas vezes de deixar um problema surgir para
tratá-lo. Minha pergunta é simples: Por que não prevenir o surgimento do
problema? Ou ainda, por que não investir em melhorar a qualidade de vida. Por
que não buscar um espaço para reflexão e diálogo sem julgamentos. Nós nascemos
dentro de uma família e conviveremos com essa família até o fim, então a busca
de terapia também é uma forma de buscar contato com uma pessoa diferente, ouvir
e ser ouvido por uma pessoa mais neutra, em outras palavras, um profissional.
Muitas vezes nós inferimos o que
nossos familiares falarão sobre determinados assuntos e nem perguntamos mais
por medo sermos criticados ou por que simplesmente não temos mais paciência.
Você tem que fazer assim, deve agir assado, não deve fazer tal coisa, não deve
se sentir triste assim, pois tem tudo nessa vida. Conhecemos as opiniões de
nossos pais, amigos, parentes. Puxa vida, como é bom ter a oportunidade de
habitar um espaço, nem que seja uma hora por semana, sem ouvir de que forma temos
que agir e o que devemos sentir ao falar algo para outra pessoa. Conselho
recebemos de amigos, escuta profunda, sincera, reflexiva recebemos do
terapeuta. Como é bom poder falar sobre um assunto pessoal com alguém com
curiosidade de nos conhecer, de entender o nosso funcionamento. Como é bom
poder esperar um olhar diferenciado do que estamos acostumados. O terapeuta
ajuda explorando e trabalhando o autoconhecimento de seu paciente. O paciente
que passa por uma dificuldade pode escutar de seu terapeuta, por exemplo: eu
imagino como deve ser difícil lidar com isso afinal como vimos aqui você já
passou por outras situações parecidas que não foram fáceis, mas vamos pensar
juntos como lidar com essa situação. Ele provavelmente não escutará do
terapeuta: você não pode se sentir assim, tem que dar a volta por cima.
As pessoas não se sentem como nós nos
sentimos diante das peculiaridades da vida. Cada um age e reage de uma forma
distinta. E por isso o autoconhecimento é importante. Aprender como tendemos a
pensar, a agir e a sentir-se diante dessas situações. Isso nos proporciona uma
autonomia imensurável. Deixamos de dar tanto valor para o que os outros pensam
e passamos a dar mais valor para o que pensamos e sentimos. Isso é lindo e
providencial para o desenvolvimento humano.
Terapia é um espaço para trabalhar a
nossa saúde mental. Quando cuidamos da nossa saúde mental na terapia, estamos
cuidando das pessoas que amamos também. Quando cuido de mim, quando me trato me
torno uma pessoa melhor para mim mesmo e para os outros. Este é um espaço muito
interessante para percebermos onde erramos, onde acertamos, como trabalhar com
as nossas dificuldades e como tirar proveito de nossas qualidades!
Mas existe algo fundamental para que
uma pessoa procure terapia: humildade. O fato de perceber-se como uma pessoa
passível de melhoramentos constantes. Podemos mudar, ou seja, melhorar a cada
dia. Pensar que não temos nada para tratar, para melhorar, que os outros (os
loucos) é que precisam de terapia é um tanto cruel. Já passou o momento da
cisão loucos no hospital psiquiátrico e sãos aqui. Somos todos seres humanos,
com qualidades, defeitos, dificuldades, alegrias, tristezas. Somos todos
passíveis de tratamento e por isso candidatos a esta convidativa evolução terapêutica.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Bergamota com chimarrão
Queria dizer
que a vida não é uma causa perdida. Os sonhos não estão distantes, depende do
seu grau de insanidade. Quanto maior a sua insanidade maior a chance de
alcançar seus sonhos, pois os loucos não dão bola para o que os outros pensam
deles. Os loucos vivem suas insanidades e por isso o céu é o limite.
Passamos a
vida toda desde crianças escutando o que não podemos fazer, como devemos nos comportar, o que não podemos
assistir, o que não podemos falar, que não devemos nos atrasar, que não devemos
nos vestir assim, que não devemos falar assado, que não devemos criar
expectativas nos outros seres humanos... acontece que somos seres humanos e
dessa forma deixamos de criar expectativas sobre o nosso próprio potencial, sobre os
nossos sonhos.
Eu sempre
gostei de comer bergamota e tomar chimarrão. Muitas vezes me chamaram de louca
por causa disso dizendo: guria, você é
louca, isso vai te dar dor de barriga! É incrível como os seres humanos tem
facilidade para pensar que o diferente, o inusitado fará mal, ou seja, aquilo
que não experimentaram e acham estranho fará mal.
Mal faz achar
que o inusitado trará prejuízos. Temos cinco sentidos e muito a experimentar.
Há quem se sinta bem estourando plástico bolha, quem goste de filme dramático
para passar o final de semana chorando, há quem goste do cheiro de suor, e quem
goste de ouvir funk. Por isso, não venham me dizer que meu gosto por bergamota com
chimarrão é estranho por que não é! Estranho é não gostar do que nunca se
experimentou!
sexta-feira, 20 de abril de 2012
Pote de parafusos
Há quem diga que uma
pessoa tem um parafuso a mais ou a menos ou ainda mesmo solto por não parecer
normal e apropriado aos olhos de quem observa. Desde que me conheço por gente
meu pai coleciona parafusos que acha na rua. Quando percebe algum, guarda-o no
bolso da camisa dizendo que pode ser importante para alguma manutenção a ser
feita em casa. Ele
os guarda num pote.
Quando ele se mudou deixou
comigo o pote de parafusos quase cheio e começou um novo para ele. Muito gentil
da parte dele. Assim são alguns pais com seus filhos. Sempre querendo oferecer
soluções, precauções para consertar o que precisa. Deste modo, toda vez que
vamos instalar, montar, remontar, apertar, trocar uma peça ou colocar um novo
quadro recorremos ao famoso pote de parafusos. Acho que foram raríssimas às vezes
que precisamos aqui em casa ir até uma ferragem comprar um parafuso específico.
Só percebi que meu
marido adorou essa ideia quando trouxe para casa um pote todo bonito, com tampa
e tudo para manter os parafusos. É a ideia da precaução passando de geração em
geração. Parafusos, parafusos! Os parafusos existem porque necessitam de um encaixe
específico, perfeito. Já os pregos podem ser de tamanho aproximado. Cada
parafuso tem sua bucha, e até tem números para diferenciá-los.
Nesse sentido, de nada
adiantaria juntar todos os pregos que achássemos na rua. Quando se necessita
comprar pregos, se compra um saco deles, já quando se necessita comprar
parafusos, se compra por unidades, tantos quantos forem necessários para montar
um móvel ou fixar uma estante. Nesse sentido, podemos pensar que existe um
sentido em guardar coisas na vida. Guardar é precaver. Mas não adianta guardar
pregos, esses só tomariam espaço. Guardar parafusos sim pode ser interessante.
Especificidade é especialidade. Quando necessitamos de um tipo de material para
solucionar algo, percebemos quão especial é aquele parafuso. Mas nem todos os
parafusos guardados são bons, e sempre quando mexemos no pote tiramos alguns
enferrujados, sem cabeça ou quebrados.
Da vida, guardamos
diversas coisas, mas diversas mesmo. Aquilo que é específico e especial
permanece no nosso pote. Quando precisamos buscamos lá. E buscamos diversas
aprendizagens no pote. Muitas delas especiais. Aprendizagem que usamos ontem,
usamos hoje, usaremos amanhã e quem sabe poderemos passar esse pote a nossos
filhos para que levem um pouquinho de nós. Eles também saberão limpar esse pote,
descartar aprendizagens que foram necessárias para nós, mas que talvez não
sejam para eles. Do meu pote já descartei, por exemplo, curso de datilografia.
Mas existem coisas que não são agradáveis e permanecem no pote, e isso não é
algo tão ruim assim. Muitas vezes memorizamos uma marca que achamos ruim, o
nome de um estabelecimento onde não fomos bem atendidos, ou um caminho mais
difícil que o de costume. Essas memórias são importantes porque nos ajudam a
escolher constantemente aquilo que achamos mais apropriado. Essa busca pelo
específico, pelo especial faz de nós eternos mantenedores do pote de parafusos,
guardamos nele tudo aquilo que achamos que poderá nos ajudar um dia. E muitas
vezes não é qualquer coisa que pode nos ajudar, é algo bem específico e
portanto especial.
quarta-feira, 21 de março de 2012
Ousadia
Ponhamos então nossos sonhos em prática!
O primeiro degrau muitas vezes é o mais difícil, mas é o elo entre a homeostase e o crescimento!
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