Há alguns dias eu conversava com uma
tia muito querida que revelou estar preocupada com a neta dela. Disse que ela
tirava ótimas notas, sendo uma menina graciosa, atenciosa, mas estava na fase
do preto, desde esmalte de unhas até as roupas. Mas até aí tudo bem, o que a
deixou preocupada foi o fato da neta falar que queria fazer terapia com um
psicólogo. Ela ficou preocupada e disse que não era o caso dela fazer terapia,
pois elas poderiam conversar sobre o que ela quisesse. Não era tão grave assim.
Infelizmente existe um senso comum de
que psicólogo trata loucos, pessoas mentalmente incapacitadas, não lúcidas,
incapazes de se manterem equilibradas ou passando por grande dificuldade. Outro
senso comum é o seguinte: eu não sou o errado, não sou eu que tenho que fazer
terapia. Gostaria de dizer antes de
qualquer convenção ou senso comum, que psicólogo não trata loucos, psicólogo
trata pessoas, como eu, como você. Qualquer pessoa. Qualquer pessoa pode passar
por dificuldades em algum momento da vida. E não precisa passar por dificuldades para
visitar um psicólogo. Como no caso que referi no início desse texto, é
interessante uma jovem querer ir a um psicólogo. Aqui existe uma possibilidade interessantíssima
a nossa frente, ou seja, a possibilidade de trabalharmos com prevenção. Nós
brasileiros temos o costume muitas vezes de deixar um problema surgir para
tratá-lo. Minha pergunta é simples: Por que não prevenir o surgimento do
problema? Ou ainda, por que não investir em melhorar a qualidade de vida. Por
que não buscar um espaço para reflexão e diálogo sem julgamentos. Nós nascemos
dentro de uma família e conviveremos com essa família até o fim, então a busca
de terapia também é uma forma de buscar contato com uma pessoa diferente, ouvir
e ser ouvido por uma pessoa mais neutra, em outras palavras, um profissional.
Muitas vezes nós inferimos o que
nossos familiares falarão sobre determinados assuntos e nem perguntamos mais
por medo sermos criticados ou por que simplesmente não temos mais paciência.
Você tem que fazer assim, deve agir assado, não deve fazer tal coisa, não deve
se sentir triste assim, pois tem tudo nessa vida. Conhecemos as opiniões de
nossos pais, amigos, parentes. Puxa vida, como é bom ter a oportunidade de
habitar um espaço, nem que seja uma hora por semana, sem ouvir de que forma temos
que agir e o que devemos sentir ao falar algo para outra pessoa. Conselho
recebemos de amigos, escuta profunda, sincera, reflexiva recebemos do
terapeuta. Como é bom poder falar sobre um assunto pessoal com alguém com
curiosidade de nos conhecer, de entender o nosso funcionamento. Como é bom
poder esperar um olhar diferenciado do que estamos acostumados. O terapeuta
ajuda explorando e trabalhando o autoconhecimento de seu paciente. O paciente
que passa por uma dificuldade pode escutar de seu terapeuta, por exemplo: eu
imagino como deve ser difícil lidar com isso afinal como vimos aqui você já
passou por outras situações parecidas que não foram fáceis, mas vamos pensar
juntos como lidar com essa situação. Ele provavelmente não escutará do
terapeuta: você não pode se sentir assim, tem que dar a volta por cima.
As pessoas não se sentem como nós nos
sentimos diante das peculiaridades da vida. Cada um age e reage de uma forma
distinta. E por isso o autoconhecimento é importante. Aprender como tendemos a
pensar, a agir e a sentir-se diante dessas situações. Isso nos proporciona uma
autonomia imensurável. Deixamos de dar tanto valor para o que os outros pensam
e passamos a dar mais valor para o que pensamos e sentimos. Isso é lindo e
providencial para o desenvolvimento humano.
Terapia é um espaço para trabalhar a
nossa saúde mental. Quando cuidamos da nossa saúde mental na terapia, estamos
cuidando das pessoas que amamos também. Quando cuido de mim, quando me trato me
torno uma pessoa melhor para mim mesmo e para os outros. Este é um espaço muito
interessante para percebermos onde erramos, onde acertamos, como trabalhar com
as nossas dificuldades e como tirar proveito de nossas qualidades!
Mas existe algo fundamental para que
uma pessoa procure terapia: humildade. O fato de perceber-se como uma pessoa
passível de melhoramentos constantes. Podemos mudar, ou seja, melhorar a cada
dia. Pensar que não temos nada para tratar, para melhorar, que os outros (os
loucos) é que precisam de terapia é um tanto cruel. Já passou o momento da
cisão loucos no hospital psiquiátrico e sãos aqui. Somos todos seres humanos,
com qualidades, defeitos, dificuldades, alegrias, tristezas. Somos todos
passíveis de tratamento e por isso candidatos a esta convidativa evolução terapêutica.