sexta-feira, 8 de junho de 2012

Terapia e humildade

            
            Há alguns dias eu conversava com uma tia muito querida que revelou estar preocupada com a neta dela. Disse que ela tirava ótimas notas, sendo uma menina graciosa, atenciosa, mas estava na fase do preto, desde esmalte de unhas até as roupas. Mas até aí tudo bem, o que a deixou preocupada foi o fato da neta falar que queria fazer terapia com um psicólogo. Ela ficou preocupada e disse que não era o caso dela fazer terapia, pois elas poderiam conversar sobre o que ela quisesse. Não era tão grave assim.

Infelizmente existe um senso comum de que psicólogo trata loucos, pessoas mentalmente incapacitadas, não lúcidas, incapazes de se manterem equilibradas ou passando por grande dificuldade. Outro senso comum é o seguinte: eu não sou o errado, não sou eu que tenho que fazer terapia.  Gostaria de dizer antes de qualquer convenção ou senso comum, que psicólogo não trata loucos, psicólogo trata pessoas, como eu, como você. Qualquer pessoa. Qualquer pessoa pode passar por dificuldades em algum momento da vida.  E não precisa passar por dificuldades para visitar um psicólogo. Como no caso que referi no início desse texto, é interessante uma jovem querer ir a um psicólogo. Aqui existe uma possibilidade interessantíssima a nossa frente, ou seja, a possibilidade de trabalharmos com prevenção. Nós brasileiros temos o costume muitas vezes de deixar um problema surgir para tratá-lo. Minha pergunta é simples: Por que não prevenir o surgimento do problema? Ou ainda, por que não investir em melhorar a qualidade de vida. Por que não buscar um espaço para reflexão e diálogo sem julgamentos. Nós nascemos dentro de uma família e conviveremos com essa família até o fim, então a busca de terapia também é uma forma de buscar contato com uma pessoa diferente, ouvir e ser ouvido por uma pessoa mais neutra, em outras palavras, um profissional.

Muitas vezes nós inferimos o que nossos familiares falarão sobre determinados assuntos e nem perguntamos mais por medo sermos criticados ou por que simplesmente não temos mais paciência. Você tem que fazer assim, deve agir assado, não deve fazer tal coisa, não deve se sentir triste assim, pois tem tudo nessa vida. Conhecemos as opiniões de nossos pais, amigos, parentes. Puxa vida, como é bom ter a oportunidade de habitar um espaço, nem que seja uma hora por semana, sem ouvir de que forma temos que agir e o que devemos sentir ao falar algo para outra pessoa. Conselho recebemos de amigos, escuta profunda, sincera, reflexiva recebemos do terapeuta. Como é bom poder falar sobre um assunto pessoal com alguém com curiosidade de nos conhecer, de entender o nosso funcionamento. Como é bom poder esperar um olhar diferenciado do que estamos acostumados. O terapeuta ajuda explorando e trabalhando o autoconhecimento de seu paciente. O paciente que passa por uma dificuldade pode escutar de seu terapeuta, por exemplo: eu imagino como deve ser difícil lidar com isso afinal como vimos aqui você já passou por outras situações parecidas que não foram fáceis, mas vamos pensar juntos como lidar com essa situação. Ele provavelmente não escutará do terapeuta: você não pode se sentir assim, tem que dar a volta por cima.

As pessoas não se sentem como nós nos sentimos diante das peculiaridades da vida. Cada um age e reage de uma forma distinta. E por isso o autoconhecimento é importante. Aprender como tendemos a pensar, a agir e a sentir-se diante dessas situações. Isso nos proporciona uma autonomia imensurável. Deixamos de dar tanto valor para o que os outros pensam e passamos a dar mais valor para o que pensamos e sentimos. Isso é lindo e providencial para o desenvolvimento humano.

Terapia é um espaço para trabalhar a nossa saúde mental. Quando cuidamos da nossa saúde mental na terapia, estamos cuidando das pessoas que amamos também. Quando cuido de mim, quando me trato me torno uma pessoa melhor para mim mesmo e para os outros. Este é um espaço muito interessante para percebermos onde erramos, onde acertamos, como trabalhar com as nossas dificuldades e como tirar proveito de nossas qualidades!

Mas existe algo fundamental para que uma pessoa procure terapia: humildade. O fato de perceber-se como uma pessoa passível de melhoramentos constantes. Podemos mudar, ou seja, melhorar a cada dia. Pensar que não temos nada para tratar, para melhorar, que os outros (os loucos) é que precisam de terapia é um tanto cruel. Já passou o momento da cisão loucos no hospital psiquiátrico e sãos aqui. Somos todos seres humanos, com qualidades, defeitos, dificuldades, alegrias, tristezas. Somos todos passíveis de tratamento e por isso candidatos a esta convidativa evolução terapêutica.  

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